DANÇA EDUCATIVA E DANÇA CRIATIVA
A Dança Educativa é uma dança
que se alia ao desenvolvimento da criança em seus aspectos físicos, afetivos e
cognitivos. Trabalha mais com experimentação e criação do que com reprodução de
passos pré-estabelecidos. Visa aprimorar a consciência corporal, a relação do
corpo com o espaço, com os ritmos e com as dinâmicas de movimento. O trabalho
baseia-se na teoria do austríaco Rudolf Laban (1879 -1958) acerca da Dança
Educativa Moderna.
A Dança Criativa nasceu
também dos estudos realizados por Rudolf Von Laban, baseando-se na organização
espacial do movimento e na sua qualidade, nomeadamente, o ritmo e a dinâmica.
É um método de ensino
desenvolvido para dar à criança uma identificação motora, do equilíbrio, da
flexibilidade, da lateralidade e amplitude articulares, além de estimular a
criatividade e facilitar a descoberta de novas modalidades de ação, sendo
agente efetivo de harmonia até a vida adulta.
DANÇA EDUCATIVA
Ao
falar de dança educativa impõe-se a discussão sobre tal expressão na escola
A Dança Educativa auxilia o
desenvolvimento motor específico de cada faixa etária, pois
compreende que o corpo é a base para toda e qualquer experiência, respeitando e
transformando as características da idade em pressupostos para a dança.
Variados estilos de dança fazem parte do
conteúdo programático da Dança Educativa, auxiliando na aquisição de
habilidades técnicas e possibilitando o conhecimento das variantes
sócio-históricas dessas manifestações artísticas
Para aprofundarmos mais
neste tema evidenciamos o estudo feito por Martha Thiago Scarpato em sua
pesquisa da dança Educativa nas escolas de São Paulo(2001).
No
resumo do artigo a autora começa questionando qual o estilo apropriado para dança na área da educação e ressalta a necessidade de
professores habilitados para desenvolverem trabalhos similares.
Martha(2001), continua descrevendo que usar a dança em sala de aula favorece a
criatividade, traz muitas contribuições no processo de aprendizagem se for
trabalhada integrada com outras disciplinas.
Martha Scarpato( 2001)relata que o uso do
balé clássico é polêmico dentro da sala de aula, pois os professores tendem a
dividir os alunos entre talentosos e não-talentosos.Os talentosos nas
distribuições dos papeis para um espetáculo, recebem papeis de destaque.Fala
também que o aprendizado de balé clássico dura em media oito( 08) anos de passos
sempre repetidos , não pensados , nem discutidos e que não expressam o interior
de quem os executa.
Scarpato(2001) menciona que existem
escolas que passeiam por vários estilos que poderiam ser melhores trabalhados,
explorados e aprofundados se fosse somente um estilo ou que tivesse nesta aula
uma fundamentação teórico-prático-pedagógica que justificasse tal proposta
Salienta que o desconhecimento do valor da
dança por parte de coordenadores pedagógicos, diretores de escolas e a falta de
especialistas sérios acabam levando a um ensino de dança confuso, sem fundamentação e sem reflexão.
A seguir a autora fala sobre a proposta de Rudolf Laban dizendo
ser esta uma proposta adequada aos princípios da educação progressista, fazendo
com que o aluno exponha seus próprios movimentos, assim contribui com o
desenvolvimento emocional,físico e social
do participante.
A autora menciona que para Laban a criança
tem o impulso inato de realizar movimentos similares aos da dança. Cabe à
escola levá-la a adquirir consciência
dos princípios do movimento, preservando sua espontaneidade e desenvolvendo a
expressão criativa.Sendo assim a referida autora comenta que o aprendizado da dança deve integrar o conhecimento
intelectual e criatividade do aluno desenvolvendo os quatro(4) pilares da
educação, segundo Delors( 2000).
Já com relação a Freinet a autora Martha
Scarpato(2001) diz que ele não propõe um
método mas sim técnicas pedagógicas para trazer à sala de aula o interesse a alegria, a cooperação.Substitui a prática
pedagógica tradicional por uma prática pedagógica que leva a ação.Assim Freinet
começa a suas aulas-passeio que visava colocar o aluno em contato com o meio
externo para descobrir uma forma que
motivasse a criação de textos-livres por parte dos alunos.
A seguir a autora faz um paralelo entre as propostas
pedagógicas de Laban e Freinet pautadas
em seus ensinamentos para o ensino da dança e conclui que ambos apresentavam,
no início do século XX, ideias avançadas demais para a época, até hoje não
incorporadas na prática da educação Brasileira, como a proposta de dança de Laban
e as Técnicas de ensino de Freinet.
Laban
e Freinet têm consciência de que o meio interfere na vida e na formação do ser
humano, questionando os avanços da tecnologia por gerarem a imobilidade, o sedentarismo,
prejudicial ao desenvolvimento.
As propostas de Laban e Freinet podem
integrar-se numa proposta de ensino de Dança Educativa nas escolas, por
contribuírem para o desenvolvimento do Educando nos aspectos:
aprendizagem,compromisso,cidadania,responsabilidade,interesse,senso-crítico,criatividade,envolvimento,socialização,comunicação,livre-expressão,respeito,autonomia,cooperação.
Scarpato (2001) diz que tal proposta de
dança procura levar o aluno à ação-sensação-reflexão contribuindo para o desenvolvimento dos
quatro pilares da educação, segundo (Delors,2000,p 100) Aprender
a ser; aprender a fazer; aprender a conhecer; aprender a viver juntos.
A autora ressalta que o aprendizado de
Dança Educativa integra o conhecimento intelectual e a habilidade corporal e
criativa do aluno,lembra também que de
levar em conta que no período da alfabetização o processo não atinge
somente o aspecto cognitivo do aluno,
mas o aluno como um todo: emocional,social,corporal, etc.
A
autora ainda descreve que o ponto forte do projeto é quando o aluno ,
individualmente, faz a auto-avaliação,
pois segundo Freinet, uma das
necessidades vitais da criança é saber se avaliar.
Finalizando a autora ainda indica que se faz
necessário professores especialistas para que a Dança Educativa traga uma
formação integral para o aluno.Termina dizendo que poucos professores conhecem
as teorias de Laban e o PCN deveria ser mais explícito quanto aos princípios e
proposta de dança que assume.
DANÇA CRIATIVA
Tem uma componente de
aprendizagem, através do jogo, que desenvolve as capacidades psicomotoras, bem
como a cooperação na formação individual e da personalidade de cada criança.
Atua de forma descontraída, para que cada aluno dance livremente e se sinta
capaz de ajudar na construção de uma coreografia.
As
aulas têm como inspiração a utilização de diferentes estilos musicais, contos
lendas, improvisação, noções básicas de anatomia e danças circulares. Desta
forma, o trabalho visa suscitar o prazer do movimento e o autoconhecimento
através da dança. Através das percepções táctil, visual, rítmica e afetiva, o
trabalho procura orientar a criança na descoberta das possibilidades corporais
e na investigação da sua linguagem, devolvendo a consciência, a coordenação
motora, a criatividade e a expressividade do corpo. Assim, ela adquire maior
controle postural dos seus movimentos passando a ter maior autonomia para
explorar o mundo que a rodeia.
Para esta discussão Izabel Marques em seu
livro Dançando na Escola(2012) trás algumas considerações a respeito deste
tema,vejamos algumas de suas considerações.
A autora começa dizendo que no mundo
ocidental, a”dança criativa”, ao lado da “dança educativa”, são quase que
consensualmente aceitas como modalidades similares de educação para crianças na
área de dança no contexto escolar.
A autora relata que a dança criativa vem
se desenvolvendo dentro do campo de conhecimento sem que seus pressupostos e
asserções tenham sofrido muito questionamento e desconstrução pelo mundo
acadêmico.
Ela questiona que o universo de pesquisa
em dança e educação parece não ter ainda feito uma crítica teórica
significativa ,assim acabam aceitando e reproduzindo conceitos e práticas
muitas vezes hoje enganosos e irrelevantes para nossas crianças.
O termo dança criativa, diz Marques,
sugere que as aulas de dança devem
permitir e incentivar os alunos a experimentar,explorar,expandir, “ colocar seu
eu” no processo de configuração de gestos e de movimentos.Ou seja, continuando
seu raciocínio, devem possibilitar que os alunos literalmente, “criem” suas
danças com seus corpos e emoções(Marques,1989 apud Marques,2012).
A autora questiona o que realmente é dança
educativa.Ela comenta que Rudolf Laban,coreógrafo e dançarino, usou amplamente
este termo quando divulgava seu trabalho na Inglaterra.Até hoje quando queremos
dizer que uma aula de dança segue a linha de pesquisa de Laban, usa-se a
nomenclatura “dança educativa”.Marques
explica que Laban usou esse termo em
contraposição à técnica rígida, mecânica e imposta de fora para dentro de que
se apropriava o ensino do balé clássico na época.Diz que para Laban, a criança
e o adolescente deveriam ter a possibilidade de expressar sua subjetividade
enquanto dançavam.
Então neste ponto Marques( 2012)
questiona, se este tipo de aula seria, segundo sua concepção, “ educativa”. Ou
seria o mesmo que “criativa”?
Marques continua dizendo que o processo
histórico tanto da dança quanto da educação das últimas décadas/séculos já pode
ser visto, analisado e desconstruído a partir de uma perspectiva mais crítica.E
pergunta mais uma vez se ainda necessitamos de tantos termos diferenciados, e
ao mesmo tempo semelhantes, para nos referirmos à dança em contexto
educacional.Porque não poderíamos ver todas as danças como educacionais se
forem ensinadas de tal modo que alunos possam compreender,sentir,
verbalizar,contextualizar e apreciar aquilo que estão fazendo?
A autora adverte que com tantas
nomenclaturas acabamos assumindo realmente uma diferença entre a dança
produzida na sociedade e a dança produzida na escola.A primeira é arte, e a
segunda é educação(Marques 1999,p87).
Se enfatizarmos que a dança na escola é
“diferente”( e por isto ela é “ educativa” ou “ criativa” ),pois diz a autora se, não estamos interessados em
formar artistas, acabamos também negando a presença da dança na escola como
área de conhecimento em si, ou seja como linguagem artística.
Apesar de não termos evidências , de que
os trabalhos artísticos de Laban e de H`Doubler (este último tendo discurso
educacional profundamente enraizado na filosofia da dança moderna do inicio do
século, iguais a filosofia de Laban)tenham sidos inspirados e ou baseados na
dança da criança, no plano educacional esta concepção de arte aparece de
maneira bem clara na medida que também acreditavam e defendiam a liberdade, a
ingenuidade,a espontaneidade e sobretudo a naturalidade a priori contidas nas
danças das crianças.Para estes autores a expressão através da atividade
corporal espontânea é tão natural na criança quanto respirar.
Segundo Izabel Marques( 2012) estes
autores alimentados por estas ideias, explicitam que o ensino de dança proposto
por eles, as práticas pedagógicas não
invadem a criança, ou melhor possibilitam o desenvolvimento natural deste artista que está dentro de cada
pessoa.Para eles a infância não poderia ser destruída e, pelo contrário,
deveria ser preservada(Soucy,1991,apud marques 2012).
Para Marques(2012) este eixo pedagógico
criou o “espontaneísmo”.Ou seja mesmo existindo o saber, ou os conteúdos, ele
acabam sendo negados e suprimidos por muitos professores em contexto escolar
com o propósito de não intervir no processo de criação supostamente “ natural” do
aluno.Aquilo que estaria de fora, além deles( dos alunos) e que poderia
estabelecer uma mediação na relação professor/aluno – o saber -- acaba sendo excluído.Ao
excluí-lo, funda-se a expressão corporal e as modalidades criativas de dança
que são raramente consideradas dança, mas educação.
Neste sentido Laban e H´Doubler, ao vislumbrarem uma dança para
crianças no processo educacional, mesmo enfatizando a importância da qualidade
técnica (domínio do movimento) e
estética dos trabalhos criados dão mais ênfase ao processo do que ao produto.
Continuando a narração, Marques(2012) diz
que tanto Laban quanto H´Doubler não questionaram o mito da criança feliz( toda
criança é livre e natural e que em toda criança germina a vontade “espontânea”
de dançar.)Eles não questionaram estas ideias e infelizmente até hoje parecem
inquestionáveis estes pressupostos entre muitos professores que trabalham com
dança.
Segundo Philippe Ariès(1986) citado por
Marques diz que a ideia de infância, a representação da criança, não existiu na
sociedade ocidental até o século XIII.Somente
no século XVII a criança passa a ser concebida como ser independente e
portador de vontade e psicologia próprias.Por
isto diz Marques a ideia de “ anjo”, pura, inocente foi literalmente construída
pela sociedade.Assim a educação deveria
manter o educando em seu estado natural, sem ser violentada.(Rousseau 1762/1979
apud Marques 2012).
A autora questiona se não podemos discutir
mais criticamente este conceito de infância, do ensino de dança pautado na realidade do contexto em que as
crianças vivem.Enfatiza que não existe mais a criança, mas muitas crianças que,
apesar de pertencerem a mesma categoria etária, variam enormemente entre si e,
portanto demanda uma educação diferenciado e contextualizada.
Prosseguindo a autora diz que o discurso
da “Dança criativa” não leva em consideração paradigmas de educação que correspondam
as propostas sociais e de participação crítica do indivíduo na sociedade, não
leva em consideração a situação concreta de miséria e pobreza de milhões de
crianças. Marques(2012) diz que a dança criativa restringe-se somente à dança e
seu universo, o ensino da “dança criativa” também é centrado em conceitos e
concepções do século XVIII, no qual conteúdo e aluno isolados são o centro do
processo de ensino e aprendizagem.
Para terminar, Marques, descreve que a
principal crítica que está nos últimos tempos incomodando é o esvaziamento de sentido
e de significação sóciocultural que pode acompanhar o ensino de técnicas
universais do que ao potencial criativo da dança. Concluindo ,diz que está
claro que a pedagogia tradicional para o ensino de dança,e mesmo a pedagogia da
“dança criativa”, contribuem para manter não apenas o mundo da dança, mas o
mundo geral tal qual são”(Stinson,1995,p.87), pois as teias de relações
multifacetadas entre corpos,movimentos,danças, família e sociedade poderiam ser
direta e explicitamente trabalhadas em sala de aula, através de conteúdos
específicos da dança.
Diante do que foi tratado sobre dança
educativa e dança criativa trazemos uma frase de Strazzacappa(2001,p.44) sobre
as nomenclaturas que a dança tem dentro das escolas:
[...] toda dança promove
transformação, logo, toda dança é educação. É por esta razão que termos como dança educativa, dança
expressiva, dança criativa e tantas outras nomenclaturas para nomear a dança
trabalhada na escola devem ser evitadas.
A dança em si já é educativa, expressiva e criativa, dispensando adjetivos. Se não
é constituída desses três fatores, então simplesmente não é dança. (STRAZZACAPPA,
2001, p.44).