A EDUCAÇÃO E OS EDUCADORES DO FUTURO
O artigo“ A
educação e os educadores do futuro” de Eduardo Benzatti, trás resumidamente
as ideias do filósofo e pensador da complexidade Edgar Morim,baseado em seu
livro “Os sete saberes necessários à educação do futuro”.[1] O artigo trás uma reflexão
do papel do educador.
O autor descreve que o ser humano vive
inserido numa realidade extremamente complexa, onde no dia-a-dia representamos
vários papeis (pai,mãe,filho,trabalhador,amigo, namorado,etc.) e que somos tudo
isto simultaneamente.Isto acontece também com os fatos no dia-a-dia.
Ao analisarmos um acontecimento, como por
exemplo a violência que tem raízes culturais, sociais e até antropológicas,
analisamos sob uma única ótica (segurança publica).Isto se denomina conforme o
autor escreve como paradigma simplificador,redutor e reducionista. Desta forma
o problema da violência não reflete o real pois só é analisado sob um ponto de
vista, então como ficam os outros aspectos? Desconsideramos? Mas eles não
influenciam no problema?
O autor afirma, que para tratar de um
problema complexo devemos pensar de forma complexa. Segundo o autor devemos
transformar nossos saberes, revisionar práticas pedagógicas que são, segundo o
autor, redutoras do conhecimento. É preciso instrumentalizar o aluno a
responder questões referentes à ética, cidadania, solidariedade planetária e
global do presente e do futuro.Uma educação que desenvolva a visão de mundo, segundo
Paulo Freire[2].
No pensamento de Paulo Freire é necessário o pensar reflexivo, partindo de sua
própria autocrítica, o aluno demonstrando capacidade de progredir, de buscar
novos caminhos e de aprofundar suas posições incorporando novos parâmetros
práticos e teóricos.
[1]
Morim,Edgar.Os sete saberes necessários à educação do futuro.São
Paulo:Cortez,Brasília- DF UNESCO 2000.
[2]
Paulo
Freire é considerado um dos pensadores mais notáveis na história da Pedagogia mundial,1 tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica.A sua prática didática
fundamentava-se na crença de que o educando assimilaria o objeto de estudo fazendo
uso de uma prática dialética com a realidade, em contraposição à por ele
denominada educação bancária, tecnicista e alienante: o educando criaria sua
própria educação, fazendo ele próprio o caminho, e não seguindo um já
previamente construído; libertando-se de chavões alienantes, o educando
seguiria e criaria o rumo do seu aprendizado.
Continuando
o autor descreve sete saberes “fundamentais” para a educação do futuro:
1)
As cegueiras do conhecimento:o erro e a ilusão.
A educação do futuro deve mostrar que todo conhecimento
comporta o risco do erro e da ilusão.Considerando o passado, observamos que
fomos dominados por muitos erros e ilusões (regimes políticos, métodos de
alfabetização, etc.)
O conhecimento cientifico que é um meio de
detecção dos erros, mas quando possui paradigmas que não dialogam com a
realidade, e não se abrem para contestação, podem também desenvolver erros e
ilusões
A educação do futuro deve trabalhar com a
possibilidade de erros e construir saberes capazes da crítica e autocrítica,
abertos, reflexivos. Deverá ser uma educação que prepare para o enfrentamento
de incertezas e cegueiras do conhecimento.
2)
Os princípios do conhecimento pertinente.
Pela globalização temos hoje uma imensa massa de
informações que provêm de vários canais.A educação deve desenvolver em nós a
habilidade de discernir os problemas-chaves, sermos capazes de promovermos a
relação dialógica entre o particular e o geral.
Hoje temos uma educação fragmentada dos
saberes resumidos e compartimentados que dão uma dupla visão do mundo
falsamente antagônica.
Há saberes que estão padecendo e morrendo.O
que parecia absoluto, não é mais. Assim a educação do futuro destronará esse
paradigma-mestre, absolutista, pois ela ajudará a desenvolver e promover a
inteligência geral, que nós permitirá resolver problemas complexos.
É importante resgatar a racionalidade que
nos permite dialogar com o real,onde se faz uso do debate, e não é apenas
teoria, mas crítica e também autocrítica.
Finalizando o autor declara que “devemos
novamente estimular espíritos e mentes à aventura do conhecimento”.
A educação deve nos tornar lúcidos e com
conhecimento suficiente pra combatermos as mentiras que estão como verdades, a
exemplo:
-O
dinheiro é tudo?
-O
consumismo nós fará feliz?
3)
Ensinar a condição humana
O autor discorre sobre a condição humana e
afirma que enquanto seres humanos devemos reconhecer nossa humanidade e nossa
diversidade cultural. A humanidade é una e diversa, e como fazemos parte do
Cosmo, somos feitos da mesma substância das estrelas e planetas, estando dessa
maneira irremediavelmente ligados ao destino da Terra e do Universo, portanto a
educação do futuro não pode ser esquecida, e para tanto deve- se conscientizar
as novas gerações da nossa condição como cidadãos do mundo > individual,
social e global, constituindo núcleos de formação sobre o estudo da
complexidade humana.
4)
Ensinar a identidade terrena
O autor enfatiza a questão ecológica, o cuidado com o
meio ambiente, pois pertencemos a essa terra que é a nossa primeira e última
pátria: a Terra- Pátria, Terra- Mãe e morada de toda a humanidade. Esclarece
ainda que por pertencermos à mesma espécie, possuímos características
fundamentalmente humanas, conquistamos a modernidade através da tecnologia e
que a Globalização pode ser unificadora, mas também pode ser conflituosa, e
isso devemos evitar estando atentos, conscientizando através da educação do
futuro os aspectos desejáveis para a globalização.
Declara ainda que a tomada dessa
consciência já começou, já se vê um despertar cultivando nas novas gerações um
sentimento de desvelo e pertencimento à terra, porém ainda é muito fraco
confirma o autor, face às forças que provoca e enfrenta. O autor refere- se aos
movimentos de Ação Ecológica, Ação em defesa dos Direitos Humanos e das
minorias étnicas, culturais e sexuais. Refere- se ainda às novas tecnologias
declarando que o desenvolvimento técnico- científico, nas áreas de comunicação
e da computação trouxe problemas mundiais tais como: vírus biológicos e
virtuais, tráfego de drogas e de órgãos humanos, tráfego de mulheres e de armas
para conflitos locais, sem falar da prostituição infantil, lavagem de dinheiro
e emissão de gazes poluentes que destrói a proteção natural contra os raios
solares nocivos aos seres humanos. Acrescenta que a falsificação de remédios, o
terrorismo político e religioso, a produção de dejetos químicos e atômicos e a
produção de lixo são frutos de uma economia baseada na ideologia consumista e
desenfreada, destruindo nossas fontes e recursos naturais vitais para a
continuidade da nossa espécie. O autor propõe que a educação do futuro ensine
uma ética de compreensão planetária
5)
Enfrentar as incertezas
O autor fala sobre incertezas, como
enfrentar as incertezas, esclarecendo que a História e por extensão a nossa
Vida, não é linear, é repleta de organizações e desorganizações. O autor remete
aos impérios antigos como o Império Romano, Império Otamano, Império Austro-
Húngaro e o Império Soviético que nasceram e morreram inevitavelmente. Relata
também que as Teorias da Relatividade e da Física Quântica reforçam a incerteza
da realidade e conhecimento. Acrescenta que a educação do futuro deverá
considerar o princípio da incerteza, pois estamos navegando num oceano de
incertezas no qual podemos encontrar pequenas ilhas de certezas. O autor
considera que a educação do futuro ensinará que toda ação é um jogo de inter –
retro- ações. Fala de estratégias que analisem as condições de cada situação.
6)
Ensinar a compreensão
Em seguida, o autor fala sobre
compreensão, ensinar a compreensão, que para ele é a missão espiritual da
educação. Declara que a comunicação não implica compreensão, mesmo nesse
momento em que o mundo mais se comunica.
O autor coloca que é preciso estimular a
compreensão intelectual ou objetiva e a intersubjetiva que envolve empatia. A
educação do futuro deverá ensinar a ética da compreensão. A compreensão é uma
ética nela baseada exige a existência de sociedades democráticas. A democracia
deve ser um valor mundial. A educação do futuro, declara o autor, deverá
assumir um compromisso total com o espírito democrático e aberto.
7)
A ética do gênero humano
A tríade indivíduo/sociedade/espécie, deve ser considerada
esferas inseparáveis e co-produtora uma das outras. A ética do gênero humano (antropo-ética)
implica em: assumir a consciência e a condição humana; assumir o destino humano
como incerto; trabalhar para a humanização da humanidade; alcançar a unidade na
diversidade planetária, respeitar o outro na sua plenitude e humanidade; e
desenvolver a ética da solidariedade da compreensão e do gênero humano.
A ética do gênero humano deve ensinar
princípios democráticos da liberdade individual. Sua tarefa é regenerar a
Democracia.
A Humanidade será algo vivo nos corações e
mentes dos homens e mulheres.
O autor sugere em seu artigo que as
universidades deveriam dar o dízimo epistemológico, ou seja, 10% de seus
orçamentos para financiar reflexão sobre a real pertinência e valor do que
ensinam e do conhecimento que propagam.
Finalizando declara que a reforma do
pensamento e do entendimento somente acontecerá quando reformarmos os nossos
pensamentos o nosso entendimento sobre o real, nossas vidas e o próprio
conhecimento.
Sendo assim entendemos que é necessário
que a tríade indivíduo/sociedade/espécie fique unida pela ética do gênero
humano e que os sete saberes da educação é algo que todo educador deve aspirar,
refletir e o quanto antes colocar em prática melhor.
REFERENCIA BIBLIOGRÁFICO
MORIN,Edgar.Os
sete saberes necessários à educação do futuro.Tradução de Catarina Eleonora
F.da Silva e Jeanne Sawaya.São Paulo,Cortez;Brasília,DF:Unesco,2000.Titulo
original:Les sept savoirs nécessaires à l’éducation Du futur.
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