quarta-feira, 13 de novembro de 2013

DANÇA EDUCATIVA X DANÇA CRIATIVA

 DANÇA EDUCATIVA  E DANÇA CRIATIVA
A Dança Educativa é uma dança que se alia ao desenvolvimento da criança em seus aspectos físicos, afetivos e cognitivos. Trabalha mais com experimentação e criação do que com reprodução de passos pré-estabelecidos. Visa aprimorar a consciência corporal, a relação do corpo com o espaço, com os ritmos e com as dinâmicas de movimento. O trabalho baseia-se na teoria do austríaco Rudolf Laban (1879 -1958) acerca da Dança Educativa Moderna. 
A Dança Criativa nasceu também dos estudos realizados por Rudolf Von Laban, baseando-se na organização espacial do movimento e na sua qualidade, nomeadamente, o ritmo e a dinâmica.
     É um método de ensino desenvolvido para dar à criança uma identificação motora, do equilíbrio, da flexibilidade, da lateralidade e amplitude articulares, além de estimular a criatividade e facilitar a descoberta de novas modalidades de ação, sendo agente efetivo de harmonia até a vida adulta.

 

 DANÇA EDUCATIVA


     Ao falar de dança educativa impõe-se a discussão sobre tal expressão na escola
      A Dança Educativa auxilia o desenvolvimento motor específico de cada faixa etária, pois compreende que o corpo é a base para toda e qualquer experiência, respeitando e transformando as características da idade em pressupostos para a dança. 
     Variados estilos de dança fazem parte do conteúdo programático da Dança Educativa, auxiliando na aquisição de habilidades técnicas e possibilitando o conhecimento das variantes sócio-históricas dessas manifestações artísticas
     Para aprofundarmos mais neste tema evidenciamos o estudo feito por Martha Thiago Scarpato em sua pesquisa da dança Educativa nas escolas de São Paulo(2001).
       No resumo do artigo a autora começa questionando qual o estilo  apropriado para dança na área da  educação e ressalta a necessidade de professores habilitados para desenvolverem trabalhos similares.
     Martha(2001), continua descrevendo  que usar a dança em sala de aula favorece a criatividade, traz muitas contribuições no processo de aprendizagem se for trabalhada integrada com outras disciplinas.
     Martha Scarpato( 2001)relata que o uso do balé clássico é polêmico dentro da sala de aula, pois os professores tendem a dividir os alunos entre talentosos e não-talentosos.Os talentosos nas distribuições dos papeis para um espetáculo, recebem papeis de destaque.Fala também que o aprendizado de balé clássico dura em media oito( 08) anos de passos sempre repetidos , não pensados , nem discutidos e que não expressam o interior de quem os executa.
     Scarpato(2001) menciona que existem escolas que passeiam por vários estilos que poderiam ser melhores trabalhados, explorados e aprofundados se fosse somente um estilo ou que tivesse nesta aula uma fundamentação teórico-prático-pedagógica que justificasse tal proposta
    Salienta que o desconhecimento do valor da dança por parte de coordenadores pedagógicos, diretores de escolas e a falta de especialistas sérios acabam levando a um ensino de dança  confuso, sem fundamentação e sem reflexão.
     A seguir a autora  fala sobre a proposta de Rudolf Laban dizendo ser esta uma proposta adequada aos princípios da educação progressista, fazendo com que o aluno exponha seus próprios movimentos, assim contribui com o desenvolvimento emocional,físico e social  do participante.    
     A autora menciona que para Laban a criança tem o impulso inato de realizar movimentos similares aos da dança. Cabe à escola levá-la  a adquirir consciência dos princípios do movimento, preservando sua espontaneidade e desenvolvendo a expressão criativa.Sendo assim a referida autora comenta que o aprendizado  da dança deve integrar o conhecimento intelectual e criatividade do aluno desenvolvendo os quatro(4) pilares da educação, segundo Delors( 2000).
     Já com relação a Freinet a autora Martha Scarpato(2001)  diz que ele não propõe um método mas sim técnicas pedagógicas para trazer à sala de aula o interesse  a alegria, a cooperação.Substitui a prática pedagógica tradicional por uma prática pedagógica que leva a ação.Assim Freinet começa a suas aulas-passeio que visava colocar o aluno em contato com o meio externo para descobrir  uma forma que motivasse a criação de textos-livres por parte dos alunos.
     A seguir a autora faz  um paralelo entre as propostas pedagógicas  de Laban e Freinet pautadas em seus ensinamentos para o ensino da dança e conclui que ambos apresentavam, no início do século XX, ideias avançadas demais para a época, até hoje não incorporadas na prática da educação Brasileira, como a proposta de dança de Laban e as Técnicas de ensino de Freinet.
   Laban e Freinet têm consciência de que o meio interfere na vida e na formação do ser humano, questionando os avanços da tecnologia por  gerarem a imobilidade, o sedentarismo, prejudicial ao desenvolvimento.
     As propostas de Laban e Freinet podem integrar-se numa proposta de ensino de Dança Educativa nas escolas, por contribuírem para o desenvolvimento do Educando nos aspectos:
aprendizagem,compromisso,cidadania,responsabilidade,interesse,senso-crítico,criatividade,envolvimento,socialização,comunicação,livre-expressão,respeito,autonomia,cooperação.
     Scarpato (2001) diz que tal proposta de dança procura levar o aluno à ação-sensação-reflexão  contribuindo para o desenvolvimento dos quatro pilares da educação, segundo (Delors,2000,p 100)   Aprender a ser; aprender a fazer; aprender a conhecer; aprender a viver juntos.
     A autora ressalta que o aprendizado de Dança Educativa integra o conhecimento intelectual e a habilidade corporal e criativa do aluno,lembra também que de  levar em conta que no período da alfabetização o processo não atinge somente o  aspecto cognitivo do aluno, mas o aluno como um todo: emocional,social,corporal, etc.
      A autora ainda descreve que o ponto forte do projeto é quando o aluno , individualmente, faz  a auto-avaliação, pois segundo Freinet, uma das  necessidades vitais da criança é saber se avaliar.    
     Finalizando a autora ainda indica que se faz necessário professores especialistas para que a Dança Educativa traga uma formação integral para o aluno.Termina dizendo que poucos professores conhecem as teorias de Laban e o PCN deveria ser mais explícito quanto aos princípios e proposta de dança que assume.

 DANÇA CRIATIVA

     Tem uma componente de aprendizagem, através do jogo, que desenvolve as capacidades psicomotoras, bem como a cooperação na formação individual e da personalidade de cada criança. Atua de forma descontraída, para que cada aluno dance livremente e se sinta capaz de ajudar na construção de uma coreografia.
As aulas têm como inspiração a utilização de diferentes estilos musicais, contos lendas, improvisação, noções básicas de anatomia e danças circulares. Desta forma, o trabalho visa suscitar o prazer do movimento e o autoconhecimento através da dança. Através das percepções táctil, visual, rítmica e afetiva, o trabalho procura orientar a criança na descoberta das possibilidades corporais e na investigação da sua linguagem, devolvendo a consciência, a coordenação motora, a criatividade e a expressividade do corpo. Assim, ela adquire maior controle postural dos seus movimentos passando a ter maior autonomia para explorar o mundo que a rodeia.
     Para esta discussão Izabel Marques em seu livro Dançando na Escola(2012) trás algumas considerações a respeito deste tema,vejamos algumas de suas considerações.
     A autora começa dizendo que no mundo ocidental, a”dança criativa”, ao lado da  “dança educativa”, são quase que consensualmente aceitas como modalidades similares de educação para crianças na área de dança no contexto escolar.
     A autora relata que a dança criativa vem se desenvolvendo dentro do campo de conhecimento sem que seus pressupostos e asserções tenham sofrido muito questionamento e desconstrução pelo mundo acadêmico.
     Ela questiona que o universo de pesquisa em dança e educação parece não ter ainda feito uma crítica teórica significativa ,assim acabam aceitando e reproduzindo conceitos e práticas muitas vezes hoje enganosos e irrelevantes para nossas crianças.
     O termo dança criativa, diz Marques, sugere que as aulas de  dança devem permitir e incentivar os alunos a experimentar,explorar,expandir, “ colocar seu eu” no processo de configuração de gestos e de movimentos.Ou seja, continuando seu raciocínio, devem possibilitar que os alunos literalmente, “criem” suas danças com seus corpos e emoções(Marques,1989 apud Marques,2012).
     A autora questiona o que realmente é dança educativa.Ela comenta que Rudolf Laban,coreógrafo e dançarino, usou amplamente este termo quando divulgava seu trabalho na Inglaterra.Até hoje quando queremos dizer que uma aula de dança segue a linha de pesquisa de Laban, usa-se a nomenclatura  “dança educativa”.Marques explica que Laban usou  esse termo em contraposição à técnica rígida, mecânica e imposta de fora para dentro de que se apropriava o ensino do balé clássico na época.Diz que para Laban, a criança e o adolescente deveriam ter a possibilidade de expressar sua subjetividade enquanto dançavam.
     Então neste ponto Marques( 2012) questiona, se este tipo de aula seria, segundo sua concepção, “ educativa”. Ou seria o mesmo que “criativa”?
     Marques continua dizendo que o processo histórico tanto da dança quanto da educação das últimas décadas/séculos já pode ser visto, analisado e desconstruído a partir de uma perspectiva mais crítica.E pergunta mais uma vez se ainda necessitamos de tantos termos diferenciados, e ao mesmo tempo semelhantes, para nos referirmos à dança em contexto educacional.Porque não poderíamos ver todas as danças como educacionais se forem ensinadas de tal modo que alunos possam compreender,sentir, verbalizar,contextualizar e apreciar aquilo que estão fazendo?
     A autora adverte que com tantas nomenclaturas acabamos assumindo realmente uma diferença entre a dança produzida na sociedade e a dança produzida na escola.A primeira é arte, e a segunda é educação(Marques 1999,p87).
     Se enfatizarmos que a dança na escola é “diferente”( e por isto ela é “ educativa” ou “ criativa” ),pois diz  a autora se, não estamos interessados em formar artistas, acabamos também negando a presença da dança na escola como área de conhecimento em si, ou seja como linguagem artística.
     Apesar de não termos evidências , de que os trabalhos artísticos de Laban e de H`Doubler (este último tendo discurso educacional profundamente enraizado na filosofia da dança moderna do inicio do século, iguais a filosofia de Laban)tenham sidos inspirados e ou baseados na dança da criança, no plano educacional esta concepção de arte aparece de maneira bem clara na medida que também acreditavam e defendiam a liberdade, a ingenuidade,a espontaneidade e sobretudo a naturalidade a priori contidas nas danças das crianças.Para estes autores a expressão através da atividade corporal espontânea é tão natural na criança quanto respirar.
     Segundo Izabel Marques( 2012) estes autores alimentados por estas ideias, explicitam que o ensino de dança proposto por eles, as práticas pedagógicas não  invadem  a criança, ou melhor  possibilitam o desenvolvimento  natural deste artista que está dentro de cada pessoa.Para eles a infância não poderia ser destruída e, pelo contrário, deveria ser preservada(Soucy,1991,apud marques 2012).
     Para Marques(2012) este eixo pedagógico criou o “espontaneísmo”.Ou seja mesmo existindo o saber, ou os conteúdos, ele acabam sendo negados e suprimidos por muitos professores em contexto escolar com o propósito de não intervir no processo de criação supostamente “ natural” do aluno.Aquilo que estaria de fora, além deles( dos alunos) e que poderia estabelecer uma mediação na relação professor/aluno – o saber -- acaba sendo excluído.Ao excluí-lo, funda-se a expressão corporal e as modalidades criativas de dança que são raramente consideradas dança, mas educação.
     Neste sentido Laban e  H´Doubler, ao vislumbrarem uma dança para crianças no processo educacional, mesmo enfatizando a importância da qualidade técnica  (domínio do movimento) e estética dos trabalhos criados dão mais ênfase ao processo do que ao produto.
     Continuando a narração, Marques(2012) diz que tanto Laban quanto H´Doubler não questionaram o mito da criança feliz( toda criança é livre e natural e que em toda criança germina a vontade “espontânea” de dançar.)Eles não questionaram estas ideias e infelizmente até hoje parecem inquestionáveis estes pressupostos entre muitos professores que trabalham com dança.
     Segundo Philippe Ariès(1986) citado por Marques diz que a ideia de infância, a representação da criança, não existiu na sociedade ocidental até o século XIII.Somente  no século XVII a criança passa a ser concebida como ser independente e portador de vontade e  psicologia próprias.Por isto diz Marques a ideia de “ anjo”, pura, inocente foi literalmente construída pela sociedade.Assim a educação  deveria manter o educando em seu estado natural, sem ser violentada.(Rousseau 1762/1979 apud Marques 2012).
     A autora questiona se não podemos discutir mais criticamente este conceito de infância, do ensino de dança  pautado na realidade do contexto em que as crianças vivem.Enfatiza que não existe mais a criança, mas muitas crianças que, apesar de pertencerem a mesma categoria etária, variam enormemente entre si e, portanto demanda uma educação diferenciado e contextualizada.
     Prosseguindo a autora diz que o discurso da “Dança criativa” não leva em consideração paradigmas de educação que correspondam as propostas sociais e de participação crítica do indivíduo na sociedade, não leva em consideração a situação concreta de miséria e pobreza de milhões de crianças. Marques(2012) diz que a dança criativa restringe-se somente à dança e seu universo, o ensino da “dança criativa” também é centrado em conceitos e concepções do século XVIII, no qual conteúdo e aluno isolados são o centro do processo de ensino e aprendizagem.
     Para terminar, Marques, descreve que a principal crítica que está nos últimos tempos incomodando é o esvaziamento de sentido e de significação sóciocultural que pode acompanhar o ensino de técnicas universais do que ao potencial criativo da dança. Concluindo ,diz que está claro que a pedagogia tradicional para o ensino de dança,e mesmo a pedagogia da “dança criativa”, contribuem para manter não apenas o mundo da dança, mas o mundo geral tal qual são”(Stinson,1995,p.87), pois as teias de relações multifacetadas entre corpos,movimentos,danças, família e sociedade poderiam ser direta e explicitamente trabalhadas em sala de aula, através de conteúdos específicos da dança.
     Diante do que foi tratado sobre dança educativa e dança criativa trazemos uma frase de Strazzacappa(2001,p.44) sobre as nomenclaturas que a dança tem dentro das escolas:
[...] toda dança promove transformação, logo, toda dança é educação. É por esta razão que termos como dança educativa, dança expressiva, dança criativa e tantas outras nomenclaturas para nomear a dança trabalhada na escola devem ser evitadas. A dança em si já é educativa, expressiva e criativa, dispensando adjetivos. Se não é constituída desses três fatores, então simplesmente não é dança. (STRAZZACAPPA, 2001, p.44).
                                                                     





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